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Sociedade - O combate à Pobreza

Daniela Filipe Bento Daniela Filipe Bento Seguir 29 de novembro de 2010 · 4 mins read
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Nos últimos dias, as notícias sobre o Banco Alimentar têm tido algum destaque nos agregadores de notícias. E, ontem, falou-se bastante do sucesso obtido nestes dias. De facto, tendo em conta o esforço e a capacidade financeira dos portugueses, acho que é surpreendente e até positivo.

Por outro lado, na minha opinião, penso que falta algo… O acontecimento não deixa de ser positivo, mas acabo a pensar que, na realidade, não é um verdadeiro combate ao problema.

Para quem vive em cidades portuguesas como Lisboa, é frequente ver, no meio da multidão, muitas pessoas necessitadas. Para o olhar menos atento ou, para o olhar do quotidiano, estas pessoas acabam por passar indiferentes à generalidade da população que circula nas estradas. Por vezes, é realmente mais fácil despertarem curiosidade no meio de pessoas da arte, fotógrafos ou, pessoas de expressão que tentam demonstrar uma realidade que apenas existe em pesadelos de muito boa gente. Por vezes, são pessoas moribundas, toxicodependentes, desalojados, falidos, excluídos ou até mesmo pessoas de riqueza que não conseguem viver de outro modo. Muitos, tentam procurar alguns trocos diante dos estacionamentos dos carros, seja para um pedaço de pão ou, na maioria, para uma dose diária. Entre jovens, velhos, adolescentes, incapacitados, existe de tudo… e tudo serve como bom factor para angariar algum dinheiro. De facto, talvez seja aquilo que mais as pessoas, nos nossos dias, fazem apelo… ao dinheiro. Ser feliz não chega, ter dinheiro não chega, provavelmente, nada chega. Não digo que há infelicidade e que não há felicidade, há uma maneira diferente de partilhar os valores da vida.

Quando chega a época natalícia, todas estas pessoas ganham um valor diferente. Passam a ser alvo de ajuda, passam a ser o objectivo de uma pequena acção diária. Entre aqueles que de facto pretendem fazer alguma coisa, há aqueles que ocultam no seu gesto de bondade, a tentativa de passar uma época de consciência tranquila, sentir que se fez algo de positivo para a sociedade sem de facto pensar no valor real do que fez.

Ora, as pessoas, em Portugal, são solidárias, é um facto quase incontestável. Apesar da loucura eminente que vivemos, o povo português acaba por ser reconhecido pela sua generosidade e como tal, eu também não o nego. Nestas épocas, isso é visível, apesar das dificuldades que a generalidade da população sofre, ainda tentam ter aquele gesto, por muito material que seja, que as deixa com alguma tranquilidade. É de facto um bonito gesto e, não tenciono escrever isto para dizer o contrário. Até porque eu próprio peco um pouco e não costumo dar grande contribuição neste tipo de manifestos. Às vezes por falta financeira, muitas outras pela falta de acreditar nestes movimentos, por melhores que sejam.

Numa sociedade onde é visível, a olhos nus, um poço enorme entre aquele que não tem e aquele que tem, torna-se preocupante ver quem pouco tem, alimentar quem pouco ou nada tem na vida. Torna-se preocupante, porque também, quem pouco tem, acaba sem nada. Uma vez que não acredito em sociedades em que tudo tem de ser equiparticionado, também não sou muito favorável a soluções temporárias que apenas servem de consolo.

A Fome (como é descrita), é um problema social grave. Não consigo ter uma solução, é óbvio, senão, não era aqui que deveria estar. Mas acredito que, de facto, estas medidas, apesar de boas, não são uma solução viável. Dar comida a uma pessoa por uns dias, para depois durante um ano inteiro esquecer a sua existência, não me parece razoável. Estes manifestos seriam importantes na medida em que se pudesse tentar procurar uma solução a curto e longo prazo para todas estas pessoas que necessitam, que imploram por apoio. Até porque, a fome não é uma necessidade solitária na luta destas pessoas, existem diversas problemáticas sociais que afectam o dia a dia de cada um destes cidadãos. Talvez, problemas tão distantes da fome, que os ajudaria a retomar uma vida, a encontrar o seu ser, o seu eu. Penso, que em muitos destes casos, a dificuldade em se sentir humano, em se sentir socialmente aceite, em se sentir da mesma espécie que todos os que vagueiam de máquina fotográfica pelas ruas, em se sentir sociais como aqueles que na esplanada tomam café…a dificuldade em ser Homem. É de facto, suficiente para desmoronar os pilares de sobrevivência de qualquer pessoa.

Num pensamento um pouco acima daquilo que é real e fazível, num pensamento utópico e pouco convicto, um primeiro passo, seria acreditar que estas pessoas têm a possibilidade de construir uma vida, têm a possibilidade de sair da rua, de sair da necessidade, de encontrar um lugar na vida. Até lá, até proporcionarmos, de facto, soluções que permitam parte disto ser real, o problema manter-se-à. E quem nada tem, sem nada fica e, quem pouco tem, com nada se terá de contentar…

Apenas um testemunho, um pensamento perdido, um pensamento inóspito… de alguém… que apenas, pateticamente… observa.

Abraço, Daniel Bento

Daniela Filipe Bento

Escrito por Daniela Filipe Bento Seguir

escreve sobre género, sexualidade, saúde mental e justiça social, activista anarco/transfeminista radical, engenheira de software e astrofísica e astronoma