É outubro. É fim de outubro. Tenho escrito pouco, muito pouco e manifestamente pouco neste sítio. No entanto muitas coisas têm acontecido no entretanto. Uma prova de que o mundo não para, não espera por nós. O mundo vive, o mundo segue o seu ciclo físico natural, independentemente de nós. O mundo cicla, sobrevive e reconstrói-se a cada momento. Também nós nos reconstruimos a cada momento. E, agora, já não sou a mesma pessoa que escreveu “É outubro”, estou num lugar físico diferente (a algumas centenas de km/h de avião), estou num lugar temporal diferente e efetivamente estou num lugar emocional diferente na transversalidade de todas as áreas que me tocam no dia a dia.
Estou a regressar da conferência da ILGA-Europe, na Eslovénia, Liubliana. Foram quatro dias de muitas emoções, sentires e trabalho, mas também socializar – criar rede, criar pontes e antever estratégias de luta. Felizmente, também rever muitas pessoas que só encontro nestes contextos e não no meu dia dia. Venho com o coração cheio de ter contacto com um grupo de pessoas que luta, procura soluções, critíca o sistema e cria diariamente oportunidades para outras pessoas, que as autonomiza e que as empodera. Se há coisas que podem melhorar? Claro, sempre.
Este foi o primeiro momento internacional enquanto presidenta da Associação ILGA Portugal, tendo sido eleita no sábado 21 de Outubro a lista que encabecei. Confesso que ainda não estou nada habituada a tratarem-me como presidenta. É um momento, mas também o que contará para mim serão as ações que nos propomos a fazer e não o título per si. Senti-me feliz com o apoio das pessoas que encontrei, nas felicitações, nas vontades de construir para a frente e não para trás. Para mim foi um passo importante, mas ainda preciso processá-lo, talvez por isto esteja a escrever isto num avião enquanto viajo de Belgrado para Lisboa com mais 3 horas de viagem pela frente.
Parece que estou a inverter o tempo e caminho para trás… estou a contrariar o ciclo do tempo. Faço-o porque me relembro e revivo. Procuro. Procuro uma razão em mim para estar e existir.
Este momento?
E porque para mim é importante?
E porque para mim é tão significativo?
É, porque nunca acreditei. E ainda continuo a ter, muitas vezes, a incapacidade de acreditar. Construí-me através de vários processos mais ou menos complicados, mais ou menos complexos, mais ou menos difíceis. Mas construí-me. Se com 18 anos não acreditava que era capaz de ter uma vida relativamente independente, aos 24 não acreditava que podia ser quem eu quisesse ser, aos 27 não acreditava que era possível construir-me de um outro lugar, aos 30 não acreditava que podia vir a ter um trabalho e habitação estável, aos 36 não acreditava que alguma vez podia estar no papel de presidenta de uma associação como esta.
O meu problema sempre foi
… não acreditar.
… não me permitir.
… não me libertar daquilo que eu própria defendo.
Hoje estou diferente, não que esses pensamentos já não me dominem, mas estou diferente. Estou mais segura, mais responsável com a minha saúde e bem estar, mais comprometida com os meus próprios objetivos.
Hoje estou diferente por mim, estou crente por mim e estou feliz por mim.
Mas hoje também estou diferente por todas as maravilhosas pesssoas que me rodeiam com quem tenho contado com o apoio incondicional, com espaços de fala, de discussão, de riso, de silêncio, de estar.
Porque hoje sinto, que acreditando mais em mim… eu vivo e não apenas sobrevivo.
Dani
Imagem: Believe… - @BK