Não somos fotografias, não somos visões estáticas no tempo, não somos intemporais. Somos parte do tempo, do evoluir, da mudança. Foi com esta premissa que sugeri a palavra tempo durante a minha acção de formação de voluntariado na ILGA este último fim de semana.
Acredito, conscientemente, que esta mutabilidade da consciência racional e emocional humana é uma fonte preciosa para a construção de políticas de luta contra sistemas opressores de qualquer tipo (políticos, económicos, sociais, humanos). Porém, mais importante do que a existência de meios naturais de mudança é a própria consciencialização dessa capacidade independentemente do contexto onde se nasce e cresce. No entanto, é importante notar que, dado o nosso carácter social, este processo interno está limitado massivamente pela ideia de grupo e comunhão de ideias - é aqui que qualquer sistema opressor ganha vantagem.
De uma forma geral, por uma questão de comunicação, expressão e interiorização atribuimos conceitos e definições a determinado conjunto de características, sejam elas físicas ou emocionais. Estas palavras são importantes no papel que desempenham. A sociedade constrói-se continuamente por ideais definidos e construídos, as pessoas desenvolvem-se e expressam-se através destas construções. Os ritmos de desenvolvimento de cada indivíduo são diferentes e como tal, o contexto onde existem também se desenvolve a ritmos diferenciados.
Neste ciclo, na minha visão, torna-se importante para cada indivíduo ganhar consciência para o seu próprio crescimento e interpretação do mundo. É neste período (que acontece continuamente e não em momentos precisos da nossa vida) que fica clara a ideia de mudança. O mundo muda constantemente, mas muda porque fazemos parte dele. Nós somos a mudança. Cada um de nós. Permitimos a mudança social quando nós, interiormente, também nos permitimos aceitar a nossa própria mudança, evolução e aprendizagem. Esta ideia é transversal a qualquer conceito ou definição, quer seja nas questões da orientação sexual e de identidade de género (pelo facto da palavra ter surgido em contexto LGBT) ou por qualquer outra característica a que nos aproximamos (personalidade, visão política e económica, etc).
A mudança de qualquer sistema é possível, a queda de qualquer sistema opressor é possível. Contudo, esta mudança e esta vitória só fará sentido se cada um de nós, para além de acreditar, sentirmos que devemos fazer parte. Que as nossas dúvidas, os nossos receios, medos, vitórias, conquistas, visões e questionamento sobre qualquer ideia possam ser atirados para cima da mesa livres de inferiorização, descreditação ou invalidação. Um a um podemos fazê-lo.
A ideia de mutabilidade remete-me à ideia da diferença pessoal (interior e exterior) e, como tal, sinto que é importante perceber que inerente à natureza do mundo (no geral), muitas destas diferenças são irrelevantes no contexto da sociedade - o direito à indiferença.
Dani