geral,

Não somos fotografias

Daniela Filipe Bento Daniela Filipe Bento Seguir 11 de maio de 2015 · 2 mins read
Não somos fotografias
Partilha

Não somos fotografias, não somos visões estáticas no tempo, não somos intemporais. Somos parte do tempo, do evoluir, da mudança. Foi com esta premissa que sugeri a palavra tempo durante a minha acção de formação de voluntariado na ILGA este último fim de semana.

Estereotipos

Acredito, conscientemente, que esta mutabilidade da consciência racional e emocional humana é uma fonte preciosa para a construção de políticas de luta contra sistemas opressores de qualquer tipo (políticos, económicos, sociais, humanos). Porém, mais importante do que a existência de meios naturais de mudança é a própria consciencialização dessa capacidade independentemente do contexto onde se nasce e cresce. No entanto, é importante notar que, dado o nosso carácter social, este processo interno está limitado massivamente pela ideia de grupo e comunhão de ideias - é aqui que qualquer sistema opressor ganha vantagem.

De uma forma geral, por uma questão de comunicação, expressão e interiorização atribuimos conceitos e definições a determinado conjunto de características, sejam elas físicas ou emocionais. Estas palavras são importantes no papel que desempenham. A sociedade constrói-se continuamente por ideais definidos e construídos, as pessoas desenvolvem-se e expressam-se através destas construções. Os ritmos de desenvolvimento de cada indivíduo são diferentes e como tal, o contexto onde existem também se desenvolve a ritmos diferenciados.

Neste ciclo, na minha visão, torna-se importante para cada indivíduo ganhar consciência para o seu próprio crescimento e interpretação do mundo. É neste período (que acontece continuamente e não em momentos precisos da nossa vida) que fica clara a ideia de mudança. O mundo muda constantemente, mas muda porque fazemos parte dele. Nós somos a mudança. Cada um de nós. Permitimos a mudança social quando nós, interiormente, também nos permitimos aceitar a nossa própria mudança, evolução e aprendizagem. Esta ideia é transversal a qualquer conceito ou definição, quer seja nas questões da orientação sexual e de identidade de género (pelo facto da palavra ter surgido em contexto LGBT) ou por qualquer outra característica a que nos aproximamos (personalidade, visão política e económica, etc).

A mudança de qualquer sistema é possível, a queda de qualquer sistema opressor é possível. Contudo, esta mudança e esta vitória só fará sentido se cada um de nós, para além de acreditar, sentirmos que devemos fazer parte. Que as nossas dúvidas, os nossos receios, medos, vitórias, conquistas, visões e questionamento sobre qualquer ideia possam ser atirados para cima da mesa livres de inferiorização, descreditação ou invalidação. Um a um podemos fazê-lo.

A ideia de mutabilidade remete-me à ideia da diferença pessoal (interior e exterior) e, como tal, sinto que é importante perceber que inerente à natureza do mundo (no geral), muitas destas diferenças são irrelevantes no contexto da sociedade - o direito à indiferença.

Dani

Daniela Filipe Bento

Escrito por Daniela Filipe Bento Seguir

escreve sobre género, sexualidade, saúde mental e justiça social, activista anarco/transfeminista radical, engenheira de software e astrofísica e astronoma