Sento-me na cadeira, frente ao computador. Tenho vontade de escrever, mas não sei como, sou atravessada por uma série de pensamentos, de ideias, desilusões e mal estar. Um mal estar profundo, um mal estar que não me deixa pensar de forma estruturada, que não me deixa pensar com início e fim, apenas pensar e desiludir-me, apenas pensar e querer gritar mais alto. São gritos que vêm de dentro, do meu profundo estar. Da minha eloquência de existir. Tristes e não conformes com a realidade do mundo em que pertenço e em que vivo. Porque não quero este mundo, quero outro.
Sinto-me desiludida por fazer tão pouco.
Sinto-me desiludida por gritar tão pouco.
Sinto-me tão desiludida por tolerar demais.
Sinto-me desiludida por não chocar mais.
Sinto-me desiludida.
A cada dia que passa, penso mais na importância de estar na frente, de dizer não ao pacto com o sistema, viver fora dele, abandoná-lo
Porque não o quero, não de todo.
A cada dia que passa, mais a convicção que este mundo não merece, não de todo.
A cada dia alguém morre, a cada dia, mais uma vítima da violência
Patriarcal,
Machista,
Sexista.
A cada dia mais uma pessoa vítima directa ou indirectamente,
física ou psicologicamente
num sistema que promove a violência, o mau trato - o destrato.
A cada dia mais alguém que desaparece, que nos deixa.
A cada dia, mais uma de nós.
Digo uma de nós com a certeza de quem sou.
Digo uma de nós com a certeza de quem são as pessoas.
Digo uma de nós com a certeza de que nós somos as principais vítimas deste sistema.
Digo uma de nós com a certeza de que nós somos as armas da revolta
da revolução e da criação de um mundo novo.
Digo nós, mulheres e todas as identidades não hegemônicas.
Digo nós, todas as que não se revêem neste sistema.
Digo nós, todas as que lutam pela sobrevivência.
Digo nós, todas as que empatizam com a dor da outra.
Digo nós, porque a revolução faz-se para todas…
Digo nós, porque a revolução é para o sistema destruir.
Digo nós, porque a revolução é para um novo mundo criar.
Não acredito na esperança,
Não acredito na boa vontade,
Não acredito na bonança,
Acredito na luta,
Acredito no cuidado,
Acredito.
Porque esperança é parar,
Porque boa vontade é ignorar,
Porque bonança é sonhar.
Aqui, hoje e sempre. Em luta.
Num amor construído para a revolta,
Num amor construído para um novo mundo.
Dani
Imagem: Manifestação feminista fez história em 1975 [Fotografia: Arquivo DN]