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Mono, Poli. Amar!

Daniela Filipe Bento Daniela Filipe Bento Seguir 11 de março de 2015 · 3 mins read
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Nos últimos anos reparei que os temas relacionados com as relações e o seu formato têm ganho visibilidade pública. Justifica-se pelo aumento do acesso à informação e pela crescente capacidade de cada um assumir (de uma forma positiva) os seus sentimentos perante o mundo que o rodeia.

O mundo que está constantemente em mudança e é normal que, dia após dia, surjam novas questões sobre a vivência de cada um. Interroga-mo-nos com alguma frequência sobre a validade dos nossos pensamentos, dos nossos ideais e da nossa capacidade de viver o mundo da forma mais feliz que conhecemos. Concluímos que não é fácil dar uma resposta sobre o que é correcto ou errado. Por vezes acredito que dificilmente seremos capazes de ter essa resposta, mas por outro lado sinto que a sua ausência permite-nos ser mais verdadeiros.

Num post anterior (aqui) escrevi, de uma forma resumida, sobre a minha visão do modo como me apaixono pelo mundo. Porém, apaixonar é apenas parte. Relacionar é mais exigente, na medida em que não envolve apenas nós próprios, mas o outro. A Internet permitiu-me descobrir que não estou só na minha forma de pensar.

De uma forma geral, numa visão normativa do Ocidente, crescemos sobre um padrão relacional de pares. Todo o sistema legislativo e social é desenvolvido sobre a premissa do contracto bilateral entre duas pessoas. E até há alguns anos atrás, sobre a premissa mais restritiva de um contracto bilateral entre duas pessoas de sexo oposto, homem e mulher. Sabemos que nem todas as sociedades se regem por este princípio. Surge daqui os termos Monogamia (nomeadamente cultura Judaico-Cristã) e Poligamia. Dentro deste último, o mais comum é a Poliginia.

A sociedade Ocidental resulta, principalmente, de um sistema hetero-patriarcal. De um sistema que estimula a iniquidade dos géneros, que subvaloriza o papel da mulher e coloca o homem no centro da evolução social. Ao longo do último século temos observado uma grande conquista das mulheres, uma posição social cada vez mais igualitária e mais digna. Conseguiu-se quebrar muitos dos estigmas relacionados com o seu papel social. Mais tarde iniciou-se uma nova luta, o reconhecimento da relação (amor) homossexual.

Nos últimos anos assiste-se a uma nova quebra dos paradigmas das relações. Acredito eu, para melhor. Surgem os movimentos que defendem o Poliamor. Por definição, a monogamia tem subjacente a premissa de que o amor é único e que não pode ser particionado. O movimento poliamoroso desconstrói esta definição e, na minha opinião, evolui sobre o fundamento de que as relações amorosas não são entidades contáveis e mensuráveis. Quero eu dizer que o amor é construído emocionalmente e, como tal, o desenvolvimento de um modelo preciso e único para dimensionar uma relação é impossível.

Pessoalmente, ao longo dos anos, sempre me fez alguma confusão a ideia de que o amor teria de ser único, que o amor tivesse regras restritas e fundamentais para existir, que não fosse mutável e volátil. Era-me impossível sentir-me mudar e saber que determinadas emoções não mudavam. Simplesmente, sempre acreditei que amar em pleno alguém não me impedia de amar em pleno outro alguém. Do outro lado estão pessoas diferentes, entre nós existem relações diferentes e, assim, amores diferentes. No entanto, acreditar-se que a relação não monogâmica é possível, na minha visão, não implica obrigatoriamente viver vários amores, isso seria trazer outro modelo restrito de vivência. Acredito sim que, viver o poliamor, é ter a oportunidade de optar, consentir, ser responsável e, acima de tudo, pensar na felicidade de quem gostamos. Permitir-me amar mais do que uma pessoa não me retira a responsabilidade de respeitar cada pessoa que amo e tomar opções, se necessário. A ética da relação está na capacidade de todos os intervenientes poderem sentir felicidade e sentirem-se amados e não cada um fazer-se valer pelo que acredita.

Por fim, com o devido cuidado, sou poliamorosa, mas mais do que ser ou acreditar no poliamor, acredito em quem amo. Acredito que no amor, é a nossa capacidade de optar, de gerir, de ser correcto, de ser uma companheira, que vence. O conceito vale a designação, no sentimento vale a felicidade de amar e a felicidade de ser amado.

Dani

Daniela Filipe Bento

Escrito por Daniela Filipe Bento Seguir

escreve sobre género, sexualidade, saúde mental e justiça social, activista anarco/transfeminista radical, engenheira de software e astrofísica e astronoma