Criativo é ser e não ser, ao mesmo tempo. Criativo é imaginar e realizar, simultaneamente.
Do mesmo modo que o sonho nos cega durante a noite, a criatividade venda-nos os olhos e permite-nos chegar a nós próprios. Acordar é, na generalidade, um processo rotineiro, porém, pode ser uma nova etapa para o trabalho criativo, pode ser uma nova frente para a capacidade abstracta que, frequentemente, é expulsa das nossas pequenas mentes.
A imagem criativa é delicada, é sensível. É, também, fruto de uma experiência pessoal e de uma procura interior. Muitas vezes, estas imagens surgem-nos nas mais variadas formas, em diferentes meios e por diversas razões. O resultado sensitivo é, também ele, explorado através da capacidade intrínseca de cada um para sentir. De uma maneira ou de outra, toda a gente faz parte do mundo criativo, é globalizante.
A meu ver, a condução de um princípio criativo apela, muitas vezes, à capacidade de um indivíduo se entregar a ele mesmo e, sobretudo, de se entregar ao mundo que o rodeia. É preciso, acima de tudo, sentir o mundo, independentemente do que este tem para dar. A obtenção de um valor pessoal (interior) exacerbado é, talvez, um factor promissor para o insucesso da obra como um todo. Nestas últimas palavras pretendo dizer que (a meu ver), o objectivo em concretizar a obra criativa é um impedimento à própria criação. A nossa vontade própria de expressão e a nossa imagem do mundo é alterada, é tonificada pela técnica e pela comparação idealista do resultado. É como ter a imagem na mente sem, antes, começar a relação com o ambiente.
Muitas vezes, o estado de incongruência com o mundo, em que as pessoas se encontram, não permite o desenvolvimento de potenciais processos criativos, não possibilita a limpeza mental para que se elimine ruídos de fundo e desequilíbrios emocionais. Outras vezes, são também estes balanços negativos e positivos que permitem a um indivíduo edificar ideias. Obtidas de um modo, ou de outro, estas mensagens mentais, em grande parte, não são atribuídas a um significado conclusivo ou, até mesmo, a nenhum. Porém, na minha visão leiga, é extremamente interessante verificar que a grande maioria dos pensamentos diários são considerados, pelo próprio, insignificantes. No entanto, estes são a luz de grandes criações. É que, de um modo geral, não é sentar-mo-nos a pensar na obra que a obra nasce.
Na minha opinião, a criatividade não é nada se, de nada for acompanhada. Isto é, a criação puramente racional e calculista não é, de todo, um processo completamente criativo, mas sim, um ideia transformada e produzida. Este reajuste da ideia, permite ao próximo “olhar” a obra e, de alguma forma, interpretá-la. No fundo, dando uma visão extrema da criatividade, pode-se dizer que esta é imprevisível e incompreensível.