Sentada à secretária, os meus dois pequenos vagueiam pela sala e, agora deitados, olham para mim na escuridão da sala. Luz fusca que deixa as paredes marcadas de sombras e movimento. As paredes ganharam vida, a minha sombra tem vida. Sinto que estou numa fase de mudança e de uma mudança essencial para o meu futuro, não só para os próximos dias, mas aquele futuro que todas as as pessoas falam - do médio e longo prazo. Simultaneamente ouço algumas músicas que já não ouvia há uns três ou quatro anos, nostalgia? Talvez. Porém, são elementos da minha vida continua, do meu espaço e do meu tempo, das minhas passadas pelo caminho que percorro.
Percebi que devo recomeçar - mas de uma forma diferente. Preciso, agora, parar e pensar. Escutar o que o meu corpo e mente me dizem, escutar as minhas necessidades, presentes e futuras. Neste sentido, necessito de me restabelecer e de voltar a ganhar energia. Construir-me e desenvolver-me de dentro para fora. Enfrentar, neste momento, algumas das minhas actuais dificuldades e continuar a trabalhar nas minhas facilidades. Desta forma decidi que preciso ter uma relação saudável comigo e, com esta mudança, não ter qualquer outra relação principal - a minha precisa de ser estruturalmente a única. Decidi, também, que preciso reduzir a toxicidade a que estou sujeita e, com isso aprender a arranjar novas estratégias pessoais para evitar esta situação - uma delas, já adotada há alguns dias, foi a redução do tempo gasto em redes sociais, apostando na força das conversas presenciais. Os planos de tarefas começaram a ser também uma forma importante de organizar o meu tempo e a minha própria disponibilidade. Agora que, também, vão começar as aulas é uma oportunidade para apostar nos meus próprios projectos e ideias. É uma boa oportunidade para tentar fazer-me crescer noutras frentes e aproveitar esse mesmo contexto para diversificar.
Neste momento preciso de descanso e reduzir o ritmo e, com isso, apostar no essencial e deixar o resto para mais tarde. Eu gosto de listas, por isso não vou esquecendo de apontar o que preciso e quero fazer no futuro. Esta retração pessoal é-me necessário - reservar-me, proteger-me e realinhar o meu caminho. Com esta mudança preciso de criar, novamente, os meus espaços seguros. E, quando digo meus, quero dizer espaços que não poderão ser ocupados por outras vivências, apenas as minhas - o meu local de retiro. O silêncio é também uma forma de comunicar, nos dois sentidos e, a minha mente neste momento está silenciosa. Para dizer a verdade, triste e silenciosa.
Esta era uma pausa que deveria ter feito há alguns meses atrás - decidi não fazer - acreditava que me iria conseguir endireitar naturalmente. Endireitei, mas não foi a forma saudável de o fazer, não foi com respeito à minha própria pessoa e aos meus limites. Neste momento terei de os definir claramente, os meus máximos e os meus mínimos - até pode posso e devo ir, até onde posso e devo deixar estar. É, de alguma forma, óbvio que tenho consciência do que me está a acontecer - estou num período de oscilação e estou a cair num estado depressivo e, como é de esperar, também já tenho isso em mente nas questões a resolver e de como as devo resolver.
Assim, preciso de renascer, recomeçar e começar. Preciso de me reestruturar e preparar para mais uns dias de conflito interior. Felizmente sei que depois destes dias virão dias melhores, mais sorridentes e meus amigos. Estas oscilações não são infinitas, porém é imperativo para mim assinalar que vou melhorar, reforçar a certeza de que tudo vai correr pelo melhor - assim o espero.
Dani