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Ano 2022, em revisão...

Daniela Filipe Bento Daniela Filipe Bento Seguir 1 de janeiro de 2023 · 4 mins read
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Já em 2023 e um ano depois de ter iniciado todo um novo processo interno, de descoberta e redescoberta. O ano 2022 foi um ano de sensações e emoções, assim como, um ano de muitas viragens, curvas e adaptações.

Infelizmente, um tempo muito pouco activo por aqui (blogue) o que me leva para um objectivo do próximo ano: cuidar melhor este espaço e abrir as portas para novos tipos de conteúdo.

Porém, neste caminho, comecei um ano reflexionando, olhando para trás para me localizar no presente.

“Teria de fazer imensos lutos porque morri e vivi imensas vezes, porque desconstruí-me e reconstruí-me imensas vezes. O luto torna-se um significante de uma vida nova. Eu não sinto que procurei uma vida nova, sinto que estou em processo constante de mutação, de desenvolvimento e crescimento.”

Acredito que processos reflexivos nos levam a novas ideias e no caminho, surgiram-me algumas. Poucos dias depois publico um primeiro resumo de um conjunto de textos maiores que gostaria de escrever.

“Compreender-me enquanto pessoa trans num mundo cis é como entender-me como uma reclusa da minha própria vida. Numa realidade que permeia a violência através de uma construção sócio-económico-bio-política que antevê a minha eliminação antes da minha própria existência. É neste contexto que falar em empoderamento da minha identidade é falar em revolução. É afirmar-me da margem e gritar pelo meu posicionamento no mundo.”

No dia 25 de Abril, Dia da Liberdade, reivindico

“Eu morri e vivi. Mas hoje já não morro, hoje estou solidificada. Hoje é o cistema que vai morrer. Hoje, e cada dia, hoje e a cada momento, sou eu que o vou consumir, consumir até não lhe restar nada. Até que este, o cistema, caia e não tenha energias para consumir. Não consiga mais alimentar-se da felicidade e consumir a diversidade, mas que se alimente apenas de tristeza e que consuma apenas padrões repetitivos, como se um pedaço de pedra passa-se a ser o seu alimento contínuo. O cistema morre e nós vivemos.”

e concluo que as reflexões me ajudam a progredir e a conquistar o futuro

“Referia como estou melhor e como as minhas reflexões têm me ajudado a não ser a mesma pessoa de há 10 anos. Muito mudou. E também mudou o fato de que agora as minhas emoções mais negativas são abraçadas com amor e carinho.”

Em Maio entrava novamente num período de maior dificuldade, mas sabia que não me poderia deixar levar ainda mais pelo meu estar

“O cansaço dominou-me os dias, dominou-me o corpo e a minha saúde mental. Um ciclo que fecha em si mesmo, o cansaço físico gera-me incapacidade emocional e incapacidade emocional gera-me cansaço físico. Pelo meio ficam todas as coisas que cá estão a tocar-me e não consigo ainda decifrar. Pelo meio ficam os milhares de comboios de alta velocidade que neste momento passam à minha frente, cada janela uma ideia, um pensamento.”

Procurei ajuda e entendi que estava a estabilizar

“Passadas duas semanas o meu sono melhorou bastante, para um nível razoável para a minha estabilidade (não suficiente, mas melhor). Deixei de ter memória dos sonhos (se os tenho ou não, não consigo saber) mas, pelo menos, não acordo cheia de dores e memórias pesadas. Acordo menos cansada e, pelo menos, mais capaz de fazer as coisas básicas do dia a dia. É um processo lento, mas vai acontecendo. “

Meses depois, com alguma capacidade de perspectiva escrevo

“Entender a minha divergência em relação à sociedade é compreender as minhas decisões e o modus operandi dessas mesmas escolhas. Nada é inócuo, pois tudo está mesclado com o tecido social em que vivemos. Não chega olhar para nós, é necessário olhar para a colectividade e reconhecer que vivemos em moldes construídos e reconstruidos anos após anos, séculos após séculos, … Inferir esta divergência é dominar parcialmente a minha resposta emocional ao que se vai acontecendo. “

Depois deste caminho sinuoso, sinto que há muito por fazer ainda, mas que em 2022 consegui conquistar um espaço importante nas minhas próprias dinâmicas. Como tal, espero em 2023 conseguir continuar a trabalhar internamente para obter a liberdade que muitas vezes não me dou a mim mesma.

Espero um 2023 mais consciente do que quero e preciso alcançar. Um ano de objectivos e resoluções.

Artigos de 2022:

Feliz Ano 2023 e continuação de boas leituras,

Dani

Daniela Filipe Bento

Escrito por Daniela Filipe Bento Seguir

escreve sobre género, sexualidade, saúde mental e justiça social, activista anarco/transfeminista radical, engenheira de software e astrofísica e astronoma