geral, prosa,

A luz

Daniela Filipe Bento Daniela Filipe Bento Seguir 17 de dezembro de 2018 · 2 mins read
A luz
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A fonte da batalha jorra em rios de cores de cheiros vários que escorrem montanha acima. Até ao seu cume. Até ao seu cume, estes rios debitam energia como se nada mais valesse a pena. O mundo para de rodar, o sol deixa de nascer e a lua também. Ambos parados, estáticos, no céu, esperando o momento de voltar a andar, de voltar a caminhar pelos seus próprios trilhos. No cume os rios continuam a chegar, ditos, brilhantes, conhecedores. Os rios chegam, como informação que trilha por toda a espacialidade e temporalidade do infinito que se confina num espaço bastante pequeno.

Cristal

A vida é como um jacto de energia cintilante que se intersecta com toda a maré criada para instrumentalizar. Uma instrumentalização que segue todas as instâncias de existência. Uma maré sem vista para o passado e sem vista para o futuro, mas com consciência do presente, aqui e agora, sempre. A instrumentalização do tempo que nos glorifica o espaço em que lutamos. A instrumentalização do espaço que nos glorifica o eterno tempo em que coexistimos. A premissa de estar em luta, em resistência e em significado. A premissa de estar. Como espaço que encontra o tempo e de mãos dadas colaboram na produção do presente, na construção do futuro e no resignificar o passado. Como tempo que encontra o espaço e de corpo dado colaboram na idealização do futuro, na leitura do passado e na escrita do presente. Como espaço e tempo que se intersectam em tempo e espaço. Como rios que sobem e mares que recolhem para o interior da terra. Como árvores que têm raízes no céu e pedras que chovem no infinito. A criação do mundo está e existe, a criação do mundo pertence e é contínua. A criação do mundo é… é a nossa vida.

Acordo um dia, como se a ordem terminasse. Acordo um dia, como se a ordem mensurasse. Acordo um dia, como se de cristal o mundo fosse feito. Um cristal no qual eu consigo coexistir. Um cristal que roda o tempo e estende o espaço. Um cristal onde o mundo é como eu o construí. Um cristal de brilhos enfaixados no meu olhar. Um cristal de passagens suaves e luminosas. Um cristal que intersecta jactos de energia cintilante, que permite o mar recolher e os rios subir. Um cristal onde o mundo é como eu o quero, como eu o sonho, como eu o permiti.

Porque na superfície, eu luto e resisto, porque no fundo, eu luto e resisto. Porque a luz é a minha forma de mudança do mundo. Porque a luz é a fonte que me acompanha aqui e sempre. Porque a luz é o meu caminho… do sonho à realidade.

Dani

Photo: jacinta lluch valero

Daniela Filipe Bento

Escrito por Daniela Filipe Bento Seguir

escreve sobre género, sexualidade, saúde mental e justiça social, activista anarco/transfeminista radical, engenheira de software e astrofísica e astronoma